Daniel Haaksman
Tem alemão no funk. E, ao contrário do que diz a gíria dos morros cariocas, não se trata de nenhum inimigo. O DJ e produtor berlinense Daniel Haaksman não apenas tem bombado as pistas dos EUA e da Europa com o pancadão do Rio, como vem tratando de botar um toque germânico nas batidas daqui.
Haaksman criou um selo, o Man Recordings, com intuito de dar vazão ao seu interesse pelo funk carioca. Além de títulos mais conhecidos lá fora, como a compilação "Rio Baile Funk: favela booty beats", foi lançada uma série intitulada “Funk mundial”, cujo segundo disco traz parcerias dificilmente imaginadas pouco tempo atrás.
Para se ter uma idéia, na compilação do selo alemão a dupla de produtores Sinden e Hervé - que separadamente remixaram nomes badalados como Basement Jaxx e Bloc Party - criaram uma base meio
eletrônica, meio hip hop, conhecida como speed garage, para que o MC Thiaguinho, ex-Bonde do Tigrão, cantasse em cima."Os remixes de house e electro ajudaram os DJs a fazer pontes entre os estilos e levar o funk a um público que nunca tinha ouvido esse tipo de música antes", conta Haaksman.
A bola foi levantada pelo antropólogo Hermano Vianna, autor de “O mundo funk carioca” - o primeiro livro sobre o gênero, publicado ainda no final da década de 80. Ele até cita um nome para essa movimentação toda: é o pós-baile-funk. Um dos principais parceiros de Haaksman nessa empreitada é o carioca DJ Sany Pitbull, que, com mais de 20 anos nas picapes dos bailes, é pioneiro na experimentação desses sons. Uma de suas faixas,"Tribos" , mistura o pancadão com tambores japoneses e cantos indígenas. “Esse trabalho experimental reflete algumas das questões da estrutura da música que me interessam, especialmente as misturas. Não escuto só funk. A questão de não ter voz foi metade praticidade, metade curiosidade de experimentar. Tem várias marcas características no funk, além da voz. Afinal, quem não reconhece um tamborzão de longe?”, desafia Sany, que pretende trabalhar a novidade no mercado nacional nesta temporada.- Visão gringa
“Toquei em vários países e foi a variedade e a qualidade da cena dos clubes eletrônicos que impressionou mais. Os caras levam a música a sério, mesmo nas festas. Aqui, o que importa mais é a festa mesmo”, faz o paralelo, jurando que isso não é uma reclamação e que, como bom brasileiro, adora uma festa.
“O que acontece é que o público lá repara mais no arranjo, nas referências de outros gêneros de música, e aceita as letras e vozes como parte do som, entendendo ou não o que significa”, explica o DJ brasileiro, que, por aqui tem Lulu Santos e Fernanda Abreu entre seus admiradores. O que, para Sany, é a “evolução natural” das coisas, para Hermano Vianna é mais uma das inúmeras variedades do funk. “O que o Sany está fazendo é o lado mais experimental, que mostra que o Rio desenvolveu um estilo muito interessante de programação eletrônica”, analisa o antropólogo.- Interesse
Haaksman, com mais de 30 mil discos vendidos lá fora de sua gravadora montada apenas para divulgar o som brasileiro em terras estrangeiras, fala de qual foi a sensação ao escutar o tamborzão pela primeira vez. “Foi a mesma coisa quando ouvi [nomes do rap como] Public Enemy, LL Cool J ou Run DMC nos anos 80. É um ritmo de raiz, as pessoas usam equipamentos básicos em estúdios baratos e os cantores são das comunidades, o que me lembrou a origem do rap. Fiquei emocionado”, conta o DJ alemão, que depois de ouvir o primeiro disco levado por um amigo, comprou sua passagem para o Rio. A primeira visita, em 2004, rendeu 300 discos na mala de volta e, em logo se transformou na Man Recordings.
“As pessoas aqui não sabem que as músicas são cheias de conotação sexual, mas mesmo assim é considerado um ritmo sexy e as mulheres adoram. No Brasil, se eu toco um funk mixado com house ou electro, o público não dança, não reconhece como funk se não tiver o tamborzão”, compara Daniel, dono da festa semanal "Berlin Baile Funk Session", no 103 Club, boate hype de Berlim.
“Os produtores brasileiros desenvolveram um estilo muito próprio de programar os equipamentos. Os gringos dizem que a programação carioca tem muito suingue, é mais "orgânica" do que o habitual deles. Além disso, as vozes dos MCs soam muito sensuais aos ouvidos deles”, explica Hermano Vianna.
- Set Completo
- FUNK ALEMÃO – Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
- ARABIA – Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
- TIROTEIO - Sany Pitbull
- MONOTOM rmx - Sany Pitbull
- REBOLA O RESBOLAH – Comunidade Ninjitsu
- Madonna HANG UP rmx - Sany Pitbull
- MEXICANO - Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
- FAROESTE - Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
- Afrika Bambaata BE MORE SHAKE rmx – Marcos Carnaval e dj Mavi (Tommy Boy)
- Edu K part. Deize Tigrona SEX-O-MATIC rmx –Sany Pitbull e dj Mavi (Man Recordings)
- HALLOWEEN rmx – Sany Pitbull
- TRIBOS – Sany Pitbull e Dedé dj (Carioca Funk Clube)
- ROCK TAMBORZÃO com Cissa Milay – Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
- BATUQUEIRO – Sany Pitbull (Carioca Funk Clube)
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